OS DONOS DO JOGO — CRÍTICA COMPLETA

Uma análise profunda de Os Donos do Jogo, série nacional que surpreende pela força narrativa, personagens marcantes e construção de mundo. Um mergulho intenso no crime organizado brasileiro — e uma prova de que o audiovisual do país tem muito mais qualidade do que muitos acreditam.

TELA

12/3/20253 min read

O BRASIL DO PODER, DO MEDO E DAS AMBIÇÕES

Uma crítica completa de Os Donos do Jogo (2025), série nacional que surpreende pelo ritmo intenso, personagens fortes e uma trama que mistura política, crime, ambição e sobrevivência. Um mergulho sem filtros em um Brasil real e brutal — e uma prova de que produzir conteúdo de qualidade por aqui não é apenas possível, é necessário.

Onde assistir

Disponível em: Netflix
1 temporada - 8 episódios
Lançamento: 2025

Crítica Completa – Os Donos do Jogo

Os Donos do Jogo (2025) chega como uma das produções nacionais de grande impacto. A série apresenta um Brasil onde poder e violência caminham lado a lado, navegando entre cúpulas criminosas, ambições familiares e uma disputa feroz por território, influência e sobrevivência. É um drama policial tenso, moderno e incrivelmente envolvente — daqueles que fisga já na primeira cena e não solta mais.

A trama gira em torno de Profeta (André Lamoglia), que é mais conhecido pela série Elite, também da Netflix. Seu personagem, complexo e multifacetado, oscila entre vulnerabilidade e frieza estratégica, mostrando como a vida o moldou para a selva em que vive. O núcleo familiar dele é um dos destaques da série:

  • Sombra (Igor Fernandes), o irmão fiel, leal e disposto a carregar o peso do mundo para proteger Profeta;

  • Esqueleto (Juan Aguiar), o irmão invejoso, impulsivo e traiçoeiro — responsável por boa parte das tensões internas;

  • Nélio (Adriano Garib), o pai ambicioso, que vê no próprio filho uma oportunidade, não um herdeiro.

Já o núcleo da família Guerra, a mais poderosa do RJ - onde o patriarca Jorge Guerra(Roberto Pirillo), hoje um homem doente, criou no passado a "Cúpula" e pacificou o jogo do bicho - amplia o drama com personagens tão fortes quanto perigosos. Mirna (Mel Maia) e Suzana (Giullia Buscacio) são fundamentais para o ritmo, trazendo camadas de tensão, política e manipulação. Mel Maia está certamente em um dos papéis mais densos da carreira.

Na cúpula da criminalidade, a série brilha ainda mais:

  • Galego (Chico Díaz) — talvez o melhor personagem da obra — domina cada cena com uma mistura de charme e brutalidade.

  • Leila (Juliana Paes) — fria, calculista, estratégica, uma personagem que poderia facilmente protagonizar uma série própria.

  • Búfalo (Xamã) — presença forte, violenta e imprevisível, completando um trio de antagonistas memoráveis.

A série impressiona também ao retratar o contraste entre o interior e a capital, especialmente no núcleo familiar de Profeta — onde se destacam o irmão protetor, o irmão traidor e o pai oportunista. Tudo isso sem romantizar absolutamente nada.

Quando a intensidade pesa (mas sem comprometer)

Há momentos em que o roteiro recorre a soluções “mágicas” demais, especialmente quando Profeta parece cercado, perdido ou à beira do colapso. Situações sem saída ganham reviravoltas improváveis, algo que pode soar forçado. Mas faz parte do ritmo e da proposta — é a série entregando intensidade acima de realismo absoluto. E, considerando o tom, funciona.

Defesa do audiovisual brasileiro

É impossível não tocar neste ponto: no Brasil, ainda existe um preconceito generalizado contra nossas próprias produções. Mas isso simplesmente não resiste à realidade — basta olhar para alguns exemplos de altíssimo nível como
Arcanjo Renegado, Cangaço Novo, Impuros, Justiça e Dom (e poderia citar outros dez sem esforço). A própria série documental "Vale o Escrito" do Globoplay, que trata justamente das famílias e personagens reais envolvidos no mundo(ou submundo) do Jogo do Bicho, eu também recomendo muito.
Os Donos do Jogo se junta com força a esse grupo, mostrando que o audiovisual nacional está cada vez mais competitivo e relevante.

Conexão com o Tela e Ação

A série tem tudo a ver com o propósito do Tela e Ação: ritmo forte, narrativa direta, personagens marcantes e um universo cinematográfico cheio de conflito e energia. É o tipo de produção que vibra na mesma frequência do projeto — intensidade, personalidade e ação constante.

Opinião pessoal do autor

Eu valorizo demais o conteúdo brasileiro, especialmente obras corajosas como essa, que não têm medo de mergulhar no lado mais sombrio e verdadeiro do país. Os Donos do Jogo me ganhou pelo elenco afiado, pelo ritmo acelerado e pela ousadia de apresentar personagens tão humanos quanto falhos.
Pra mim, é uma série que confirma — de novo — que o Brasil sabe fazer coisa grande quando leva a sério.

Nota Final

8/10 — Ótima