Tremembé - Crítica

Uma série que confunde drama real com glamourização.

TELA

12/5/20252 min read

CRÍTICA – Tremembé: quando a ficção ultrapassa o limite do bom senso

Onde assistir: Prime Vídeo

1 temporada

Lançamento: 2025

“Tremembé” tenta surfar na tendência mundial de séries sobre crimes reais, mas escorrega feio ao transformar criminosas condenadas em protagonistas quase heroicas. A produção até tem qualidades técnicas, mas falha gravemente na responsabilidade ética, na fidelidade dos fatos e na forma como escolhe retratar pessoas que cometeram crimes hediondos como figuras magnéticas e “humanizadas” ao extremo.

Há quem tente comparar “Tremembé” com Orange Is the New Black, mas basta alguns minutos para perceber que essa equivalência não faz sentido. Orange é baseada no caso real de Piper Kerman, que passou 13 meses na prisão após transportar dinheiro para a ex-namorada em um esquema de lavagem. Não estamos falando de assassinas, psicopatas ou sociopatas. São contextos completamente diferentes, com pesos morais incomparáveis. Colocar as duas obras na mesma categoria é distorcer a gravidade dos fatos e banalizar crimes irreversíveis.

A falta de cuidado com a fidelidade temporal também incomoda. A série mostra Matsunaga como namorada de “Sandrão” quando Suzane chega ao presídio, quando, na realidade, Suzane foi presa antes de Elise. Essa inversão compromete o entendimento do público e escancara que a verdade foi adaptada para um roteiro mais melodramático.

Outro ponto que pesa contra “Tremembé” é a insistência do audiovisual brasileiro em dar protagonismo a Suzane von Richthofen. Não é a primeira vez — e nem a segunda. Já existem três filmes dedicados à sua história:

  • A Menina que Matou os Pais

  • O Menino que Matou Meus Pais

  • A Menina que Matou os Pais – A Confissão

Explorar essa tragédia repetidamente só reforça o caráter sensacionalista da produção atual.

E há ainda um problema cultural mais amplo. No mundo, é cada vez mais comum ver séries exaltando serial killers e criminosos notórios — Dahmer, Ted Bundy, Monster, entre outros. O público termina episódios sabendo detalhes íntimos dos assassinos, mas incapaz de citar o nome de uma única vítima. No caso brasileiro, isso se agrava porque todos sabem quem foram as vítimas, e mesmo assim a série escolhe oferecer nuance, empatia e protagonismo às autoras dos crimes. É de mau gosto e profundamente desrespeitoso.

O que mais salta aos olhos é a escolha editorial. Existem incontáveis histórias reais inspiradoras — pessoas que salvaram vidas, defenderam direitos, enfrentaram injustiças, transformaram comunidades — mas, ao invés de investir nelas, opta-se novamente pelo velho caminho de romantizar criminosas. Uma inversão lamentável das prioridades culturais.

No fim, “Tremembé” não é apenas uma série fraca. É uma obra desalinhada, oportunista e éticamente questionável. Tecnicamente competente, sim, mas moralmente equivocada. E, acima de tudo, um exemplo claro de quando a dramatização ultrapassa o limite do bom senso.

Nota final: 4/10 - Ruim